O romance que o escritor e cronista Eduardo Almeida Reis “cometeu”, em seus próprios dizeres, no ano passado, Breviário de um canalha (Editora Nelpa), revela em sua escrita a mesma verve ácida, irônica, cínica, iconoclasta, que acompanhamos no trabalho do autor para jornal (ele publica diariamente no Estado de Minas e quase todos os dias no Correio Braziliense).
Mas se trata de cinismo assumido, a começar pelo título, que já coloca o “herói” do romance em seu devido lugar: o de canalha. Ou não é? O fato principal a lhe conferir tal característica é o caso secreto que mantém com a própria sogra desde antes de seu casamento e pela vida afora.
Cláudio, o protagonista, é rico, filho de milionário e casado com a filha de um banqueiro, em meados do século XX, no Rio de Janeiro. Engenheiro formado, torna-se banqueiro a conselho do sogro, um político tradicional do Espírito Santo, e passa a vida a multiplicar dinheiro à custa dos pobres, consumindo fortunas em hábitos caros, como viagens, caçadas, cavalos, carrões e outros tantos costumes de milionários.
Em certos momentos rouba, trapaceia, trai, calunia, mente, desvia, corrompe, e isso entra no rol de atividades de gente chique e aristrocrática. Nada que ninguém daquela classe social não faça para manter o padrão.
Recheada por comentários sacanas e politicamente incorretos, a narrativa de Eduardo Almeida Reis em momento nenhum critica ou sugere punição para o personagem canalha. Relata apenas, com a candura dos sinceros. Junto à fluência de uma escrita desenvolta e precisa, talvez resida aí sua melhor qualidade: a sinceridade em expor até as entranhas do “herói”. Não deixa de ser divertido.
Bizus!
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