Resultado de imagem para mia couto

Não tem desculpa pra uma blogueira tão relapsa quanto eu tenho sido este ano. Ok, fiz uma mudança demorada de casa, transportei livros e mais livros, o que me deu trabalho e cansaço, mas nesse meio tempo segui lendo, ainda que não no ritmo que gosto… Enfim, vamos tentar recuperar um pouco do tempo perdido. Resumindo, pelo menos as leituras do clube do qual faço parte:

– O deus das pequenas coisas, de Arundhati Roy (Companhia das Letras) – o escritora indiana estreou com esse romance sobre uma família marcada por eventos trágicos. A maneira como ela os relato, no entanto, custou a prender minha atenção. São notáveis as descrições dos padecimentos dos indivíduos numa sociedade de castas em que legalmente umas pessoas são melhores, outras piores, e o contato é literalmente proibido. Amor, então? Crime. Temas interessantes, mas a narrativa dela não me cativou, então tive que me esforçar pra chegar até o fim. O terço final do livro ganha com a chegada aos fotos, em si, o que ajuda nesse esforço.

– O manual da faxineira, de Lucia Berlin (Companhia das Letras) – esse deu trabalho por seu longo, mas se configurou numa das leituras mais impactantes que tive este ano. São contos mais ou menos autobiográficos sobre essa norte-americana alcoólatra que lutou contra o sistema excludente para criar seus filhos e escapar de um destino esmagador. Com muita batalha ela se formou e teve profissões que lhe permitiram crescer socialmente. Nem por isso sofreu menos, e os contos retratam isso com secura, economia de adjetivos, uma dureza compatível com a alma ali presente, inteira. Amei Lucia Berlin!

– As areias do imperador (trilogia), de Mia Couto (Companhia das Letras) – li aos pouquinhos, em e-book e em paralelo com os livros do clube de leitura, me deliciando com a escrita desse que é um dos maiores nomes vivos da literatura em língua portuguesa, e da literatura mundial, com certeza. São três livros (Mulheres de cinzas, Sombras da água e O bebedor de horizontes), mas na verdade uma só história, que acompanha uma mulher, Imani, e sua saga em meio à guerra em Moçambique no final do século XIX. Povos originários inimigos de um lado (ou melhor, de vários), o império português de outro, seus adversários ingleses, invasores de todos os lados e com interesses econômicos, políticos, jogos de poder e dominação cultural de todo tipo impedem que Imani e o sargento Germano consolidem o amor que os aproxima e afasta a cada movimento desses conflitos. Retrato amargo de uma África em que gente e natureza são moedas de troca num mundo de capitalismo ascendente e desprezo total pelo homem e, sobretudo, pela mulher. Maravilhoso!