Todo mundo conhece Afonso Borges, o criador do projeto Sempre um Papo, que há mais de 30 anos dá voz e vez a escritores, palavras, movimentos, valorizando o livro e a leitura em Minas e pelo Brasil. Muita gente conhece Afonso Borges, o poeta bissexto, o jornalista de origem, o comentarista e analista do que se passa no mundo da literatura, da cultura, da política cultural. E pouca gente conhecia o ficcionista Afonso Borges, até o lançamento, recente, de sua estreia como contista em Olhos de Carvão (Record).

Incrível é perceber a maturidade das narrativas curtas apresentadas por Afonso nessa reunião de 26 contos. Como indaga Ruy Castro na contracapa do livro, de onde Afonso tira essas histórias? Certamente do olhar maduro de jornalista e de leitor, à frente de quem personagens e situações não passam impunemente. Basta lembrar que o “duelo” entre Roberto Drummond e Oswaldo França Júnior, ocorrido décadas atrás, estava somente aguardando a hora boa para ser contado. Entre tantos outros exemplos.

O tom muitas vezes visita o da crônica, daquela observação pouco adjetivada, simulando isenção, apreendida no jornalismo. Como nessa suposta origem, o distanciamento é jogo de cena. Nada há de distante ou frio. As histórias de Afonso são econômicas para melhor emocionar. É no osso, no esqueleto, que se encontra o sumo. Na arte de enxugar e cortar, ganha o leitor.

Olhos de Carvão é uma bela estreia, que nada deve a um autor cuja vida de confunde com livros, escritores e literatura.

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