A inspiração na poesia feminina de Sophia de Mello Breyner Andresen, Hilda Hilst e Adélia Prado – explícita nas epígrafes dos capítulos de seu novo romance, Antes de nascer o mundo (Companhia das Letras), aponta uma dica sobre esta nova obra-prima do moçambicano Mia Couto: a delicadeza da maneira como ele lida com a triste história de um grupo de homens marcados pela ausência da mulher. O livro começa situando-se no interior de Moçambique, num lugar distante de tudo, com uma família formada por pai, dois filhos, um tio e um amigo militar que ajuda a cuidar das crianças. Jerusalém, o nome dado ao lugar por Silvestre Vitalício, representa para ele o fim do mundo. Ao menino narrador, Mwanito, é ensinado que o mundo acabou e que apenas eles sobreviveram. Nada disso no entanto é verdade. Ali é apenas o lugar onde eles se exilaram após a morte da mãe dos meninos.
Com o passar do tempo, outra mulher vai entrar em cena, outra solidão à procura de conciliação com o passado e o amor perdido. Uma linda história, com deliciosos jogos de linguagem e uma composição de personagens surpreendente.
Beijocos!
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