Quando eu morava em BH, conhecia a poesia de Sérgio Fantini, mas não sua produção em prosa. Agora, ao lançar meu “Siga as Setas Amarelas”, fiz uma permuta com ele e tomei finalmente contato com seu “Silas” (Jovens Escribas), uma bela reunião de contos tendo como personagem principal o homem que lhes dá nome.
Interessante que li recentemente a coletânea de contos da Nobel canadense Alice Munro e fiquei intrigada com três deles em que a personagem era a mesma, Juliet – achei que mereceriam um destaque em romance à parte. É o mesmíssimo caso de Fantini. Silas havia aparecido em outros volumes do autor, mas, ao sacar que ele fazia “aniversário”, Fantini resolveu reunir todas as histórias dele num livro só.
O resultado é uma sensação de romance fragmentado, no bom sentido. Afinal, a linguagem do autor, seu estilo, seus tiques e questões perpassam todas as narrativas. Que por sinal têm um quê bukowskiano, um gosto pela sarjeta, pela poesia “suja” dos bares, da noite, das putas, dos bêbados, dos perdedores.
Silas trafega por esse universo em vários momentos e situações da vida. Quando mais velho, o ambiente surpreendentemente se torna familiar e caseiro, mas não sem os tormentos de sempre a atravessar seu caminho: pecado, traição, violência, delicadeza versus brutalidade. O poeta envelhece, perde algum apetite alcoólico, mas não a visada descrente que o jogou na rua desde a juventude.
Gostei demais do livro. A edição é linda, de bom gosto e bom acabamento, e o estudo de Francisco de Morais Mendes ao final do volume valoriza o trabalho com uma análise profunda de quem conhece o autor e sua obra.
Beijocas!
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