Lembram-se dos gremlins, aqueles bichinhos terríveis de um filme quase antigo? Eles eram aparentemente fofinhos, mas, se molhados, se multiplicavam em proporções assustadoras, e de noite viravam monstros terríveis, tocavam o terror por onde passavam.

Descobri esse efeito gremlins nos grupos de WhatsApp. Tudo começa com um grupo pequeno, que se propõe determinada finalidade. Aos poucos o grupo vai crescendo, entrando mais gente, amigos de amigos, e de repente você se dá conta de que o grupo se desviou totalmente da finalidade. O que fazer? Mandar embora quem chegou depois? Antiético. Antipático. Então, aquela turminha inicial que tinha o foco original do grupo acaba criando um novo grupo, uma espécie de núcleo duro do objetivo inicial. Mas você pode sair do grupão depois de criar o grupinho? Não. Então, esse um virou dois.

Outra coisa que aconteceu em vários desses grupos foi a necessidade de falar de política. Como nem todo mundo se interessa pelo tema, ou, pior, nem todo mundo comunga das mesmas ideias, os grupos originais conseguiram proibir o tema, com a condição de gerar subgrupos nos quais a política não só é permitida como se tornou o foco do grupo.

Faço parte de várias comunidades de WhatsApp que viveram esse processo. De política. De literatura. De família. De colegas de escola do passado. De amigos que se encontram pra almoçar. Disso, Daquilo, com tema específico ou não. Assim como os gremlins, o que era fofo e ótimo virou um tormento! Onde antes poderíamos participar, no máximo, de uns cinco ou seis coletivos, já estamos em 10, 20 ou 30.

E o pior é que em todos se dá outro fenômeno recorrente: como as pessoas são basicamente as mesmas nos grupões e seus derivados, as mensagens são enviadas pra todos eles. E ainda tem aqueles amigos que fazem questão de te mandar no privado a mesma mensagem que já mandaram nos grupos. E aí você recebe uma, duas, dez vezes os mesmos vídeos, áudios, memes, piadas. Haja memória!

Com meu jeitinho delicado, às vezes eu respondo: que legal, já tinha visto no grupo, onde você e uns outros dez amigos mandaram. Ah, mas queria que você visse e fizesse seus comentários pra mim, retruca o amigo, em vez de dizer que foi mal, que da próxima vez não mandará repetido.

E aqueles amigos que têm certeza que é assim mesmo que se deve fazer: tem que viralizar! Putz, mas tem que viralizar logo comigo, que já penso assim, já sei disso, já acho essa corja a pior coisa já ocorrida na vida do país, que este governo é o pior de todos os tempos? Tem que viralizar, e a gente segue falando dentro da bolha, pra bolha, multiplicando-nos feito gremlins dentro de casa, entupindo nossas caixas de mensagens e nossas memórias RAM sem nenhum resultado prático.

Muito se fala de uma etiqueta nas redes sociais. Sou adepta. Não compartilhar fake news. Se tem dúvida, cheque antes. Se não conseguiu dirimir a dúvida, não compartilhe. Verifique a data da notícia que está compartilhando. Às vezes ela é superinteressante, mas aconteceu em 2013. Não envie um link mandando a pessoa assinar. Diga do que se trata. Pra que ela não precise clicar antes pra descobrir depois. Ou clicar pra descobrir que aquilo é um vírus que vai comer toda a sua memória, invadir sua intimidade, roubar seus dados, expor suas fotos, contaminar seus amigos, te enfiar num labirinto kafkiano do qual você só sairá depois de muito pesadelo, depois inclusive que sair de todos os grupos e entrar em todos de novo… E em mais um: o grupo das vítimas do terrorismo cibernético.