Assim como falamos aqui do desempenho de Andréa Beltrão, é preciso reverenciar sem pudor a estrela que é Glória Pires. Só ontem à noite pude ver É proibido fumar, de Anna Muylaert, muito justamente vencedor dos principais prêmios do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deste ano. Inclusive os de melhor ator e atriz. Podem dizer que Paulo Miklos faz papel de Paulo Miklos (o que não é verdade, ele está ótimo no filme), mas de Glória Pires ninguém dirá que se repete. Se ela abriu o festival deste ano no centro do polêmico Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, como a mãe do presidente e fio condutor da narrativa, na comédia que venceu o certame é outro o foco.
Em É proibido fumar, Glória Pires faz uma mulher incapaz de uma ação mais positiva na própria vida, parada dentro de um apartamento onde mal e mal dá aulas de violão. A chegada de um vizinho músico e o vislumbre de uma relação com novidade e alegria mobilizam essa mulher, que vive às voltas com modelos de irmãs que rejeita (a mãe de família e dona de casa, de um lado, e a executiva bem-sucedida, de outro).
Detalhe: o sotaquinho de paulista, sutil, que a atriz inventa sem cair na caricatura (como não havia caído ao falar em “nordestinês” no outro filme).
Glória Pires tem quase tanto tempo de carreira quanto de vida, é um dos maiores nomes da telenovela brasileira, que defende com talento e garra, sem preconceito, e nunca havia ganhado um prêmio por cinema. Emocionou-se em Brasília quando levantou seu primeiro Candango. Merecido. É uma estrela, capaz de dar ainda mais substância à comédia em que Anna Muylaert está mais interessada em fazer pensar do que em fazer rir.
Beijos e feliz Natal!
PS – Para nós, mineiros, é sempre um prazer ver nas telas atores do talento dos que temos, só que confinados ao teatro (local, nacional e internacional). É o caso de Antônio Edson, o Toninho do Galpão (com Glória, na foto), que faz bem o papel do porteiro, determinante na trama.
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