O romance “O arroz de Palma”, do escritor fluminense Francisco Azevedo, me lembrou minha própria escrita – modéstia à parte. Tem como tema uma família, dos avós aos netos, e como narrador um velho que se vê “três pessoas em uma só”: o menino e o adulto que foi, o velho que ora narra.
Uma delícia de literatura, em que os dotes culinários do homem remetem a tessitura de uma família ao preparo de um prato. Dá trabalho, traz surpresas, mas o sabor é sempre instigante.
Antonio é filho de José Custódio e Maria Romana, mas a personagem principal de sua formação é a Tia Palma, mulher forte, sábia e cheia de mistérios. Como o arroz que coletou após o casamento do irmão e deu ao casal de presente. Arroz mágico, arroz da fertilidade, seja no real, seja no simbólico.
Antonio tinha seus irmãos, que percorreram cada qual seu trajeto pelo mundo. Antonio se casou com Isabel, teve com ela um casal de gêmeos, e cada qual percorreu também seu caminho. E vieram os netos, com suas personalidades e destinos, e Antonio a tudo observando com humor e poesia.
A família que ocupa um século de existência ensina e aprende com a sabedoria da tia que queria fugir com o circo mas se conformou em criar irmãos, sobrinhos, sobrinhos-netos. A arte sobrevive em todos eles, mas a principal arte a prevalecer é a da vida, com amor, trabalho e olhos abertos para aprender a arte de viver.
Delícia de livro, “O arroz de Palma” (Record, 364 páginas).
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